domingo, 20 de janeiro de 2008

A Televisão e seus Signos Subliminares (por Luiz Otávio Tal)

A SEDUÇÃO DAS ESTRELAS


O Fascínio não está ligado aos personagens encarnados na TV ou no cinema, mas sim na figura do ídolo. Sendo assim, nada impede que um ator ou uma atriz ruim exerça tal fascínio sobre o fã. Basta ter carisma e domínio suficiente para seduzir a câmera e por conseqüência o público.

A televisão aprimorou o esquema “fábrica de sonhos” de Hollywood. A todo momento criam-se celebridades instantâneas, que de uma hora para outra são substituídas. Estrelas descartáveis. Isto fez com que aumentasse a ânsia por informações sobre os ídolos. Hoje há todo um segmento jornalístico destinado a criar notícias e fofocas sobre o mundo das celebridades. Este mercado cumpre o seu papel na medida em que satisfaz as necessidades emocionais dos cidadãos, encarnado desejos e compensando frustrações.

Nesta perspectiva, personagem e ídolo acabam se confundindo para o fã. A imagem que as pessoas fazem das estrelas são ilusórias, simulacros, no entanto, o “astro” pode embarcar nesta ilusão alimentando o falso contexto.

As estrelas são prisioneiras de suas glórias, pois encarnam tudo aquilo que o público médio tem vontade, mas não coragem, de vivenciar. Quando a estrela tenta se livrar de uma imagem pré-concebida é logo esquecida pela audiência. Deste modo, algumas estrelas se aprisionam num ciclo de estar sempre alimentando o desejo alheio. Visitas ao cirurgião plástico, são práticas constantes, para que nunca decepcionem.

A massa tende a não acreditar na morte dos ídolos. Nestes casos, a racionalidade é burlada, dando lugar à emotividade. Por outro lado, diferente do Cinema, a TV não sofre com isto, pois se uma estrela morre ou deixa de seduzir é imediatamente substituída.

Os mitos exercem função parecida com a da religião. A religião é o mecanismo que possibilita ao homem atingir a plenitude, pois ele está sempre buscando por algo, há sempre uma sensação de insatisfação, vazio. Deste modo, o mito trabalha da mesma forma preenchendo os anseios das massas e desencadeando uma séria de manifestações ritualísticas.

O sedutor exerce um tipo de “vampirismo”, pois ele seduz e se apodera do seduzido, que passa a viver em função do seu ídolo, de seu modo de pensar, do estilo de roupa que veste, dos lugares que freqüenta... A partir desta premissa a televisão é o veículo responsável pela criação e propagação de moda. Tanto a TV quanto o cinema induzem ao mimetismo, ou seja, o público que tenta imitar o modelo que assiste. Ironicamente, é um recurso utilizado pelo astro para se individualizar, no entanto, acaba sendo imitado pelo fã.

As séries de televisão podem também funcionar como estrela, pois elas operam do mesmo modo que o mito ao preencher as expectativas do grande público, além de impor um modelo de vida. A série se torna estrela quando se encaixa junto ao gosto dos telespectadores.

As estrelas são sempre publicitárias, objetos do consumo, enfim, um produto em potencial, pois por meio delas cria-se a sensação de que copiando suas características externas, copiam-se também as internas. Há inversão de valores também. Pode-se encontrar negros torcendo pelo herói que castiga escravos ou ricos que se emocionam com a solidão de um vagabundo.

Por fim, a idolatria chega a prejudicar a saúde dos fanáticos, que querem se identificar com os astros por meio de cirurgias plásticas ou por meio de regimes drásticos. A sociedade ocidental, por exemplo, prega a magreza, colocando a anorexia como a doença da moda.

Em resumo, todo processo é irracional. A TV potencializa o interesse pelo corpo, pela imagem, estereotipando modelos físicos.

ESTEREÓTIPO COMO INVERSÃO DA SEDUÇÃO


Os estereótipos são representações sociais que tendem transformar o complexo em algo simplório, focando apenas uma característica. São representações sociais porque é uma visão compartilhada que um coletivo social possui sobre outro coletivo social. Neste sentido o estereótipo é o contrário de sedução. Assemelha-se à sedução, pois seleciona apenas uma dimensão da realidade (no caso, negativa). O receptor transforma então a parte negativa como o todo.

Os estereótipos são uma redução da realidade para facilitar a interpretação, diminuindo a complexidade e a ambigüidade dos fatos perante o receptor. Este recorte varia de acordo com os interesses do emissor. Facilita o envolvimento emocional, mas quando se transforma em uma crença generalizada e equivocada em relação a um determinado grupo, torna-se um ato de preconceito.

Estereótipo é passivo de mudança, no entanto a TV contribui intencionalmente com concepções deturpadas da realidade que vão se solidificando na visão do receptor. Quem vê muita televisão tende a ver o mundo como perigoso, a ser menos confiante e a superestimar a maldade.

A sedução então completa o indivíduo, enquanto que o estereótipo mostra o que deve ser evitado. Os conceitos, no entanto se assemelham na medida em que difundem o mesmo ponto de vista.

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