sábado, 19 de janeiro de 2008

Caos na TV Aberta (por Luiz Otávio Tal)


O ano de 2007, para a televisão brasileira, foi marcado por uma guerra acirrada pela audiência. As novelas não emplacaram, programas passaram por reestruturações e alternativas escusas foram utilizadas para tentar chamar a atenção do grande público. Segundo dados do Ibope, divulgados pelo Estadão , a Record e a Band foram as emissoras que mais cresceram no ano passado, com índices de 18 e 10%, respectivamente. Por outro lado o SBT e a Rede Globo tiveram uma queda considerável de 16 e 13%, enquanto a Rede TV manteve-se estável.

Isto é o reflexo da falta de inventividade que permeia os roteiristas e produtores brasileiros. O resultado é uma audiência equiparada entre as TVs. A Record, por exemplo, não se envergonha de deixar claro que a regra é não ter padrão, uma vez que toda sua grade é inspirada nos produtos da Globo. Artistas e novelistas foram contratados pela emissora de Edir Macedo, a fim de produzirem tramas semelhantes as da concorrência. O fato é que quando se padronizam a oferta, evidentemente, a procura fica dividida. Este panorama tende a continuar em 2008, pelo menos enquanto não oferecem algo novo.

Outro dia à tarde estava em casa assistindo a novela “Coração de Estudante”, de Emanoel Jacobina, e me surpreendi com a riqueza dos diálogos e o com o capricho dos enquadramentos. Algo em falta nas novelas de hoje. Na Globo uma rixa entre o autor de “Duas Caras”, Aguinaldo Silva, e a alta cúpula da emissora desencaminhou ainda mais os rumos do folhetim. A trama é uma comédia de erros, onde nenhum ator se sobressai. Já a Record lança mão da parcela dos descontentes ao dar vida a mutantes bizarros com a novela “Caminhos do Coração”, de Tiago Santiago. O fato é que, mesmo sem pé nem cabeça, a trama atrai a atenção de jovens e adolescentes, acostumados com quadrinhos e games cujos personagens são zumbis e seres geneticamente modificados. O SBT, por outro lado, amarga a lanterna na disputa. Preso por um contrato com a Televisa, emissora de TV mexicana, Sílvio Santos é obrigado a reprisar e adaptar os lamentos de todas as Marias concebíveis pelos descendentes Astecas. No entanto, ultimamente a emissora tem pouco se importado com números, já que o grande interesse é lucrar com ligações telefônicas.

A crise também atinge o jornalismo. No início do mês a Globo convocou Patrícia Poeta para o lugar de Glória Maria na apresentação do “Fantástico”. A assessoria de imprensa da emissora emitiu um comunicado dizendo que foi Glória quem decidiu deixar o programa para se dedicar a projetos pessoais. Contudo, é evidente que sua imagem já estava ficando gasta. A apresentadora coleciona desafetos com a equipe do dominical e faz questão de ostentar os luxos da sociedade carioca.

Ana Maria Braga também estava perdendo pontos preciosos para os companheiros Brito Jr., Ana Hickman e Edu Guedes, do “Hoje em Dia”, da Record. A solução foi incrementar o “Mais Você” com a seleção de participantes para o Big Brother. Uma tática arriscada, uma vez que a cada ano o programa torna-se mais previsível. A fórmula é bem simples: 14 participantes confinados em uma casa, correndo atrás de um milhão de reais, enquanto o brasileiro ainda se mata por um salário mínimo. Paciência que dura até meados de abril.

Nesta história toda, a Band é a única emissora que utiliza armas justas para a disputa. Ao invés de copiar as idéias alheias, o forte em sua programação é investir no jornalismo e na cobertura esportiva. Já a Rede TV está lá, mas pelo visto ainda ninguém notou que ela existe.

Assim sendo, o panorama não é muito otimista para 2008. A política do “Pão e Circo” persiste calando milhões de telespectadores que são alimentados e entretidos com a mais chula das programações. Bom, pelo menos deste modo, segundo os romanos, os problemas da vida são deixados de lado, diminuindo as chances de revolta. Mas isto é tema para outro post.

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