sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Do Baú das Traças (por Luiz Otávio Tal)


Com o intuito de discutir e resgatar filmes que tiveram uma linguagem única dentro do cinema recente, criei esta coluna para que, de tempos em tempos, possamos analisar com mais calma e cautela a estética de diretores renomados. Muita coisa falsa é vendida nas campanhas de divulgação de qualquer filme, portanto, rediscutir uma obra é ponderar aquilo que de fato ecoou através do tempo.

Na estréia da coluna uma comparação estética entre os filmes de Mike Nichols.


Teatro no Cinema

O Cinema sabe como poucos entreter e divertir – acredito que apenas a televisão o supere neste sentido. Entramos numa sala escura e ficamos estatelados com todas aquelas imagens e sons, que parece nos sugar para dentro da tela. O problema é que depois de duas horas de projeção o filme acaba e voltamos para nossa vida medíocre. É esta a função do cinema? Bom, se levarmos em conta boa parte da produção apresentada atualmente, não teremos dúvidas de que a indústria cinematográfica visa unicamente nos entreter com fórmulas ultrapassadas e previsíveis. Contudo, ainda é possível encontrar um cinema capaz de atingir a alma do espectador, falando de segredos tão íntimos, que só estando imerso na trama para compreendê-los. Neste sentido, a estética de Mike Nichols tem se aprimorado ao longo dos anos ao propor um mergulho muito mais profundo, indo além daquilo que, aparentemente, é nos dado.

Esta característica do diretor se dá graças a sua experiência nos palcos como diretor teatral. Seus filmes são dotados de uma angústia incomum ao mesmo tempo em que são pontuados por um humor negro afiado. É isto o que se percebe em “Closer – Perto Demais” (2004), um olhar intimista na vida de dois casais que se envolvem num jogo de traições em que ninguém sabe ao certo a verdade sobre o outro. São quatro estranhos que julgam se conhecer.

O filme começa com a imagem de Alice (Natalie Portman), uma stripper, caminhando com o olhar perdido em meio à multidão de transeuntes na rua. Acompanhando Alice, a câmera se movimenta freneticamente, criando uma certa tensão, logo percebida pelo espectador. Do outro lado encontra-se Dan (Jude Law), um escritor insignificante, que caminha em sentido contrário. Um encontro, como insinua a objetiva, é inevitável. Mas é claro que esta colisão não terá intensidade. Por mais tempo que se passe, mais se encontrarão distanciados Dan e Alice, como que caminhando entre estranhos pelas ruas de Londres.

O título nacional, Perto Demais, seria uma ironia. Os personagens acreditam estarem tão próximos uns dos outros, que são incapazes de enxergar a verdade, que só vem à tona com a entrada em cena de um outro casal. A fotógrafa Anna (Julia Roberts), sente forte atração por Dan, contudo prefere barrar este sentimento e se entregar ao médico Larry (Clive Owen). O romance só é verdadeiro da parte dele, mas mesmo assim ela insiste, o que acaba gerando o clímax do longa.

Dan, Alice, Larry, Anna... Todos se envolvem em um ciclo de agressões mútuas que acabam deflagrando a verdade: tudo apresentado aos olhos do espectador é uma mentira, todas as emoções são forjadas. O filme em si é um paradoxo. Os diálogos fortes, carregado de palavrões, é a única intimidade compartilhada pelos personagens. No fim volta-se ao ponto de partida: cada qual como estranho caminhando por entre iguais.

O filme é um soco no cérebro de quem o assiste, contudo não é a primeira vez que Nichols leva às telas a intimidade de casais. Logo em sua estréia na telona, adaptou a peça teatral de Edward Albee, “Quem Tem Medo de Virginia Woolf” (1966), este mais intenso do que Closer. Dois anos depois, o diretor realizou o clássico “A Primeira Noite de Um Homem” (1968), imortalizando Anne Bancroft na pele de Mrs. Robinson. Aqui a tensão é maior por se tratar de um triângulo amoroso.

Enfim, quando se fala em Mike Nichols, pensa-se em cinema de qualidade. Seus filmes, de um modo geral, estão recheados de segredos que vão sendo revelados aos poucos. No fim, como não poderia deixar de ser, todos estão mudados (numa boa peça nunca os personagens terminam da mesma forma que começaram). Os segredos já foram revelados e eles não têm mais com o que se defender. Tudo é uma sensação de desconforto. Ao mesmo tempo em que eles descobrem que apenas se possuem e que todas as mentiras foram criadas para que permanecessem inseparáveis.

Um comentário:

Unknown disse...

Oi Rapha e Luiz!!!!
Vim aqui desejar para vcs um ótimo trabalho!!! Dizer que minha faculdade não seria a mesma sem os dois e que gosto muito de vcs.
Aos poucos vou ler suas matérias, mas uma certeza eu tenho: vcs são jornalistas natos e certamente terão muito sucesso!!!!
Bjos

Maria Fernanda