quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Pão e Circo Para as Massas (por Luiz Otávio Tal)



A mídia, às vezes, remete-nos ao passado. Na Roma da Antiguidade Clássica, César dava à massa pobre e faminta os espetáculos vividos no Coliseu; era a chamada política do “Pão e Circo”. Ao povo fornecia-se pão, para saciar a fome, e shows de combates entre gladiadores, para saciar a mente. A massa, por conseguinte, dificilmente se rebelava contra os governantes daquela cidade, uma vez que estava alimentada tanto física quanto mentalmente. Esta analogia nunca se apresentou tão assertiva para ilustrar a situação atual dos meios de comunicação de massa.

Nestes termos, a mentalidade da massa hoje não é muito diferente daquela massa da antiguidade. O país atualmente enfrenta crises políticas, num tempo em que a população deveria aproveitar para extrair todo conhecimento político necessário para tentar coibir, futuramente, novas decepções e assim passar efetivamente a construir uma cultura, indo fundo nos reais problemas e não se deixar enganar pela memória fraca. No entanto, a grande maioria da população encara as crises como shows, ajudada pela espetacularização da mídia, que transforma toda a CPI em um grande programa de TV. Hoje canais como TV Senado têm sua audiência garantida, graças aos contornos circenses. As pessoas acompanham a CPI como uma espécie de novela na qual o próximo capítulo irá revelar o vilão.

Na questão política a futilidade é até mais amena. O que de fato atrai mesmo a audiência é a possibilidade de tornar-se celebridade de um dia para outro, é a febre dos realities shows e revistas de fofocas. É por isto que atualmente esta tão evidente esta política do pão e circo. Hoje, ao invés de batalhas entre gladiadores, temos a briga pelos 15 minutos de fama, a especulação da vida alheia e principalmente, a disputa “épica” por um milhão de reais, nos programas de TV. A única diferença que se pode perceber, é que no Brasil as pessoas saem do circo de barriga vazia. Elas se contentam com o espetáculo, enquanto a fome mata silenciosamente.

A conscientização para a mudança deve partir da massa, pois sempre será mais vantajoso para mídia oferecer ao mercado esta futilidade, esta homogeneização. Até mesmo o jornalismo tem-se contaminado com esta cultura inútil. Vide o exemplo do Jornal Nacional, ao dedicar quinze minutos de sua programação ao nascimento de Sacha. Este é só mais um exemplo entre tantos outros. Agora, mais do que nunca, o povo tem que se voltar contra este “estímulo-resposta” barato e fazer valer seu direito como cidadão.

Não quero pregar aqui uma política que coloque fim à diversão, contudo é preciso dosar o que é absorvido. É preciso olhar para política com outros olhos, assim como para a programação televisiva. A mídia pode até persistir em seu bombardeamento de futilidades, contudo se nós, como público alvo, mudarmos nosso olhar e passarmos a enxergar as coisas como um olhar crítico, tudo será bem diferente. Neste dia poderei descansar aliviado, pois o Pão fartará o país enquanto o Circo não mais jorrará sangue.

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