sábado, 16 de fevereiro de 2008

Tendências do Jornalismo (por Luiz Otávio Tal)

“O Jornalismo será interpretativo, não por dar a interpretação feita, digerida, mas por permitir fazer essa interpretação a quem legitimamente deve fazê-la, que é o público”.

César Luís Aguiar[1]

Amparado pelo livro de Luiz Beltrão[2] pretendo traçar neste post, de maneira breve, os caminhos pelos quais a imprensa tem se enveredado na atualidade. A apuração mecânica não resistiu ao tempo. Hoje não basta o jornalista oferecer simplesmente a informação crua, ele deve tratá-la a fim de que as pessoas se inclinem para recebê-la.

O repórter pode trabalhar seu texto sob três perspectivas: de modo vertical (intensivo), onde há um aprofundamento do fato, levantando uma hipótese que pode ser apresentada de maneira impositiva ou opinativa; de modo horizontal (extensiva), quando há a interpretação dos fatos, ou seja, o que interessa são as forças que atuam sobre o acontecimento; e de maneira sensacionalista, em que a sonegação de informações e fontes levam o receptor a conclusões óbvias e convenientes.

O advento tecnológico capacitou a massa junto à interpretação das informações, alargando a superfície de contato. As antigas teorias da comunicação, que pintam uma população surda, muda e cega, já não têm mais valia. Contudo, a entrada da globalização pode implicar na negação do jornalismo extensivo, pois o dinamismo diário poda o tempo necessário à interpretação dos fatos, logo muitos ainda insistem em um aprofundamento tendencioso, que leva ao receptor a conclusão dos fatos.

O Caminho natural seria o desapego da parcialidade na verticalização e o insentivo das técnicas horizontais, por mais que seja evidente que é impossível a construção de uma matéria totalmente imparcial, uma vez que cada repórter possui características que lhes são únicas. Mesmo que ainda existam pessoas “atomizadas” (e ainda existe), que funcionam no sentido estímulo-resposta, é evidente que o jornalismo interpretativo não seja um empecilho para estas absorverem a informação, uma vez que proliferam na sociedade líderes comunitários, seja no campo ideológico ou no núcleo familiar, que traduzem a linguagem recebida de acordo com os interesses de cada bloco da massa. Em outras palavras, alguns serão “alimentados” pela palavra de um padre ou um pastor, já outros vão depender da análise do William Bonner no Jornal Nacional.

Ao folhear qualquer jornal diário logo se percebe que a grande maioria das reportagens apela para a interpretação, contudo, como foi visto ainda persistem a técnica vertical. A título de ilustração, escolhi uma matéria publicada pela Folha On-line para analisar e logo percebi tanto características de um modelo quanto do outro.

A matéria é uma reformulação do trabalho mecanizado das agências de notícias. Sobre as eleições parlamentares no Paquistão, o texto trabalha com um assunto “quente”, que implica em uma reorganização do valor ideológico, uma vez que estão em jogo as relações internacionais.

O primeiro bloco de matéria é o típico exemplo de jornalismo interpretativo. Há a documentação dos fatos: a eleição ocorrerá na segunda (18), pesquisas de opinião revelam a queda da força do partido de Pervez Musharraf e há apreensão por parte da população com o aumento da violência. Em suma, a conclusão é um exercício do público receptor, permitindo o feedback com a empresa jornalística, que é fundamental para o solidificação do veículo.

Já os desdobramentos da matéria estão recheados de conclusões unilaterais. O texto especula as atitudes do ditador, mesmo este tendo afirmado que as eleições ocorrerão no prazo estipulado e que estas serão justas e livres. Musharraf pode até estar mentindo, mas não foi apresentado nenhum documento que comprovasse a farsa, apenas foi levantada a opinião do ex-premiê, Nawaz Sharif, que são apenas opiniões.

A verticalização é uma técnica aceita, desde que construída sob responsabilidades, para que não se converta em um sensacionalismo barato, que vai contra todo o código de ética profissional. Por outro lado, é na extensividade que o repórter consegue crescer, pois deste modo ele entra em contato direto com a ala mais importante: o público.


[1] AGUIAR, César Luís – Interpretación on la Prensa – In Periodistas católicos – ano 5, n° 25- Abril, 1972 (Ed. Da UCLAP – Montevideo).

[2] BELTRÃO, Luiz. Jornalismo Interpretativo: filosofia e técnica. Porto Alegre: Sulina,. 1976.

Um comentário:

O rapaz dos quadrinhos disse...

é o problema e que hoje em dia o que mais existe é sensacionalismo barato.

www.meusquadrinhos.blogpot.com