segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

O Partido de Deus (por Luiz Otávio Tal)


O Partido de Deus é um movimento de resistência que lançou programas de saúde e bem-estar social em seu país, abriu escolas, e começou a olhar para além dos limites da política, criando um movimento de caráter nacional. O partido conta com a força de um jovem na liderança que já conseguiu construir uma boa reputação por sua honestidade e capacidade de planejamento estratégico. O reflexo é o aumento estrondoso de popularidade junto à população, ao ponto de ser saudado como o partido da salvação nacional. Tanto apoio fez com que ganhasse voz no governo e no ano 2000 obteve 12 cadeiras parlamentares nas eleições legislativas.

A história acima é uma das mais gloriosas a não ser por um detalhe: o tal Partido de Deus nada mais é do que o movimento “terrorista” Hizbollah. O nome é uma associação das palavras Hizbu (partido) e Allah (Deus).

Terrorista está grafado entre aspas porque a questão não é bem essa. A imprensa brasileira, talvez influenciada pela norte-americana, vem estereotipando o movimento exclusivamente como terrorista. Este aspecto vem da necessidade de definir o “bem” e o “mal” dos conflitos, encontrando assim um responsável por toda a frustração e destruição. O papel de bode expiatório da imprensa cabe, então, à força de resistência libanesa. Esquece-se assim todo um histórico de construção nacional através de apoio social e representação política.

O Líbano é sempre visto como o responsável por toda onde de baixas civis, destruição de hospitais e escolas de acordo com os jornais. A afirmativa sugere que os ataques vindos de Israel ou até mesmo das forças armadas americanas não matam pessoas inocentes ou atentam quanto o patrimônio dos países em conflito. Isto se deve ao fato de que Hizbollah ou Hamas são para a grande maioria grupos fundamentalistas radicais, ao contrário da estrutura sólida do Estado presente em países como Israel e EUA. Tido como radicais, estes grupos não têm o direito de lutar por suas causas e nem mesmo contra a ocupação estrangeira.

A manipulação da mídia em geral é claramente percebida sem precisar de muita pesquisa. Ao colher opiniões junto ao público universitário (teoricamente mais informado), a maioria dos entrevistados responderam que Hizbollah nada mais é do que um movimento terrorista. De cada dez pessoas abordadas, apenas duas lembrava-se do caráter social e político do movimento. “A primeira coisa que me vem à mente quando ouço a palavra Hizbollah é terrorismo” diz Iara Nascimento, estudante de 24 anos. Já Carolina São José, 20 anos, na contramão da maioria das pessoas, diz que é uma pena o tratamento que a mídia dá ao grupo, uma vez que há todo um trabalho social por trás.

Uma pena tanto descaso. Esta atitude só exacerba o comportamento passivo do país frente às grandes potências. Enquanto crianças morrem e cegam-se os olhos, vão se maquiando e modelando as informações para que adquiram o contorno a fim de atender as necessidades capitalistas dos impérios dominantes.


Histórico

O Hizbollah foi fundado no Líbano em 1982 em resposta as constantes invasões de Israel. Hoje conta com uma facção política e outra armada, conhecida como resistência Islâmica. A primeira grande vitória do grupo islâmico aconteceu em 2000 além das cadeiras no parlamento, conseguiu expulsar, depois de duas décadas de ocupação, o exército de Israel da região sul do Líbano.

O movimento é apoiado, tanto política quanto economicamente, pelo Irã, além de manter uma boa relação com a Síria e contar com fundos próprios, inclusive com empresas. Seu jovem líder é o xeque Sayyed Hassan Nasrallah, que é ovacionado por grande parte da população, além de encontrar adeptos pelo mundo todo que não hesitam em levantar seu retrato e faixas em atitude de protesto e apoio.

Além da milícia e do partido político, o Hizbollah mantém uma rede de hospitais, escolas e orfanatos e ainda uma emissora de TV. Tem 14 cadeiras (devido às últimas eleições legislativas, realizada em junho de 2005) entre as 128 do Parlamento libanês; seu eleitorado lhe permitiria ter pelo menos o dobro disso, mas o grupo faz campanha também para outros partidos.

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