Ele está presente em todas as capas de jornal. Às vezes em pequenas manchetes, perdidas entre as informações. Já chegou até mesmo ao jornalismo on-line, ocupando o espaço dedicado às últimas notícias. Agora mesmo eu estava navegando pelo site do jornal O Dia e a primeira notícia com que me deparo é a seguinte: “ladrão é pego após roubar duas vezes a mesma casa”. E esta característica não é exclusividade do ciberespaço e do jornalismo impresso. De Gil Gomes a Luis Datena, há tempos vem conquistando a televisão.
O fait divers funciona como um romance do jornalismo; um gênero a parte. É o mecanismo utilizado para a publicação de acidentes e pequenos escândalos, sempre em tons sensacionalistas. Ao contrário dos fatos ligados a pessoas conhecidas ou a categorias próprias (saúde, educação, economia), que são informações que exigem um conhecimento prévio e que desencadeiam desdobramentos, o sensacionalismo trabalha unicamente com o universo externo de cada indivíduo, já que não é necessário cultura para absorvê-lo.
Este tipo de articulação se dá quando há o confronto de, pelo menos, dois elementos de um fato. Esta relação pode ser fruto da causalidade, que une dois termos de uma história a fim de produzir espanto, em que a causa é sempre desviada de sua lógica. A notícia publicada hoje pela Folha Online ilustra bem esta situação: “homem é preso após assaltar rabino com arma de brinquedo em SP”. Neste caso a revelação é sempre mais pobre do que o pressuposto inicial. Espera-se que um bandido promova assaltos com armas de verdade. No entanto, a nota surte o efeito desejado pela existência de uma curiosidade inesperada.
A relação de coincidência também designa o sensacionalismo. O acaso existe em função da variação, logo uma repetição de acontecimentos sempre chama a atenção. A coincidência pode ser de relação numeral, como o exemplo citado logo no início deste texto ou quando revira a causalidade, contrapondo os termos, como uma espécie de antítese. Um bom exemplo é a notícia publicada hoje pelo jornal O Dia On-line: “enterro de mulher que morreu em academia será hoje”. O que se espera quando uma pessoa vai até a academia é que fique com as formas definidas ou, ao menos, com a saúde em dia. Pois foi justamente o contrário que aconteceu com a carioca Natasha Fabrini, de 35 anos, que morreu enquanto fazia ginástica localizada, segundo o repórter Marco Antônio Canosa.
O que se percebe é que esse tipo de jornalismo vem ganhando cada vez mais espaço. Embora considerado um exercício de mau gosto, ele tem apelo popular, uma vez que consegue atingir a massa atomizada, que vive desprendida de memória. Ao final de um fait divers permanecemos mudo, pois os fatos expostos desviam do conceito de cultura.
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