sábado, 9 de fevereiro de 2008

A História do Cinema - Parte I (por Luiz Otávio Tal)


Depois de merecidas férias, estou de volta ao blog. E aproveito a oportunidade para estrear uma nova coluna a fim de discutir as principais escolas cinematográficas. Contrariando as cartilhas, vou me pautar em discutir filmes importantes de cada período e assim ilustrar as características de cada movimento. O intuito não é entrar nos pormenores de cada momento, mas sim estabelecer uma visão mais objetiva do processo. Elegendo obras importantes o cinéfilo consegue perceber, de maneira mais fácil, como cada escola teve sua importância. Ao final de cada resenha listarei outros títulos relacionados.

Surgido no final do século XIX, pelas mãos dos irmãos Lumiére, o cinema foi evoluindo ao longo dos anos, estabelecendo linguagens e promovendo revoluções. Se em 1910 um movimento de câmera causava estranheza na platéia, que invariavelmente saía da sala de projeção perplexa, hoje os recursos tornaram-se repetitivos e pouco inventivos. A grande maioria dos filmes que estão atualmente em cartaz se inspira, de alguma forma, nos movimentos do passado. Sendo assim, entender como se processava a imagem no passado é fundamental para absorvê-la no presente.

Preparem a pipoca, pois estamos embarcando em uma viagem que vai desde a obscuridade do Expressionismo Alemão à beleza da Nouvelle Vague francesa. Inicio esta coluna com uma análise do filme de Charles Chaplin, das famosas comédias burlescas, que é o pioneiro, ao lado de Buster Keaton, na criação da linguagem no cinema.

COMÉDIA BURLESCA

O Garoto

EUA, 1921

Charles Chaplin

Uma mãe solteira deixa um hospital de caridade carregando nos braços seu filho recém-nascido. Sem capacidade para criá-lo, uma vez que fora abandonada pelo amante, deixa a criança no banco traseiro de um carro de luxo. O carro é roubado e o bebê novamente abandonado, desta vez em uma ruela. Eis que entra em cena Chaplin, na figura do vagabundo que encontra a criança. Inicialmente ele tenta se livrar do bebê, mas gradativamente um amor entre os dois surge. Cinco anos após o incidente a mãe se torna uma famosa atriz e agora com dinheiro quer seu filho de volta. Carlitos, por sua vez, não quer perder o garoto.

Este foi um dos primeiros filmes cujo gênero era impensável até então. Até mesmo os maiores roteiristas do período desconsideravam a mistura do slapstick (farsa grosseira) com a emoção. Muitos defendiam que não era possível combinar gêneros, ou se fazia um drama ou apelava-se para a comédia. Hoje em dia, no entanto, vemos uma centena de filmes em cartaz, em que o tema principal é justamente o de brincar com gêneros, passando uma rasteira na platéitaa.

Em O Garoto, primeiro longa de Chaplin, há inovações significativas, que trazem soluções originais para época e cria um padrão que até hoje é copiado. O filme mudo, narrado por expressões e diálogos inseridos na tela, praticamente não possui movimentação de câmera. Todos os movimentos são executados pelos personagens.

Para alternar entre o drama e a comédia, são usados alguns recursos que são facilmente percebidos ao longo da projeção. Nas cenas melodramáticas há o escurecimento nas extremidades ressaltando a situação; já nas cenas cômicas é utilizada a câmera rápida, que desencadeia um maior dinamismo. Isto é importante, uma vez que no lançamento do filme ainda não havia a trilha sonora, que só foi composta por Chaplin em 1971.

Ficha Técnica

Título original: The Kid. Direção: Charles Chaplin. Roteiro: Charles Chaplin. Intérpretes: Charles Chaplin, Jackie Coogan, Edna Purviance, Carl Miller, Phyllis Allen, Chuck Reisner, Tom Wilson, Henry Bergman, Albert Austin. Produção: The First National Films. Comprimento: 1700m (8 bobinas).


Ver Também:

  • Em Busca do Ouro (Charles Chaplin) – 1925
  • Amores de Estudante (Buster Keaton) – 1927
  • A General (Buster Keaton) – 1927
  • O Homem das Novidades (Buster Keaton) – 1928
  • Luzes da Cidade (Charles Chaplin) – 1931
  • Tempos Modernos (Charles Chaplin) – 1936
  • O Grande Ditador (Charles Chaplin) - 1941

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