terça-feira, 4 de março de 2008

And the Oscar goes to...

por Raphael Paradella

Noite de gala para o cinema mundial: o Oscar 2008. No último domingo, dia 24, a rede Globo transmitiu as premiações da festa da sétima arte. Para a apresentação: Maria Beltrão. Comentários: José Wilker. Lembranças: um comentário infeliz.

“Os efeitos visuais são formas de esconder a falta de idéias”. A frase proferida logo após o anúncio do vencedor “A Bússola de Ouro” passou a impressão de desmerecimento da categoria em prol de outra, a de “direção de arte”. É estranho pensar que um ator, diretor, cinéfilo e crítico, não entenda ao certo a funcionalidade e a importância que as duas premiações assumem no contexto cinematográfico.

Torna-se, então, necessárias algumas avaliações e associações de conceitos. Comecemos a relembrar do cinema em sua essência básica de representação do real. Outra concepção já mencionada é o título de 7ª arte a película, que como tal deve ser encarado como a expressão do artista, no caso a equipe de produção, perante algum fato concreto ou imaginário. Resumindo, o cinema é a arte que apresenta uma visão de mundo tangível ou não – a recriação do real. A partir disso temos a noção de que para o criador não existe barreiras que muitas vezes não se tornaram visíveis com apenas um jogo de luz, uma angulação bem feita, um enquadramento exato ou um boneco. Alguém pode até pensar que a famosa e clássica saga de George Lucas, “Star Wars” (não falamos, no caso das mais recentes gravações, mas sim, das primeiras versões), não é a “10ª maravilha do mundo”, mas é indispensável o reconhecimento de que uma mente criativa – logo, cheia de idéias – e um conjunto de efeitos visuais foram indispensáveis para a materialização de uma grande obra cinematográfica.

Neste ponto abrimos, então, mais uma lacuna para explicar o componente fundamental de qualquer efeito visual: as idéias. Platão, grande filósofo grego, ao escrever o “Mito da Caverna” explicitou a importância do homem inserido em um mundo escuro no qual as noções de realidade partiam de um imaginário, ou mais conhecido como mundo das idéias. A luz da realidade, segundo o mito, juntamente com as acepções imaginárias resultam no conhecimento do mundo. Assim, podemos traçar duas linhas de raciocínio nas quais as idéias “fantasiosas” do autor podem ser inseridas no campo abstrato de pensamento de Platão e os efeitos são os meios de transportar as idéias para o concreto. Para a conclusão deste pensamento temos um encontro entre essas duas diretrizes que é o cinema. Nisso, temos o exemplo do tão comentado “The Lord of the Rings” (O senhor dos Anéis). Vencedor de 11 estatuetas, o último filme da trilogia transpassa toda a criatividade do autor para a “realidade” cinematográfica por meio de vários efeitos especiais.

“Titanic”, vencedor de 13 Oscars em 1997, adotou um uso diferenciado dos efeitos, ao retratar um caso histórico. Ou seja, para dar maior realidade às cenas da tragédia de 1912, a utilização dos recursos visuais foi de grande importância, não pela falta de idéias, mas como acréscimo das mesmas para a melhoria da qualidade da arte cinematográfica.

Depois de ter todos esses pensamentos em mente – matéria intelectual básica para qualquer apreciador da sétima arte – temos clara a percepção de que o comentarista da Rede Globo se portou de maneira infeliz. E que “esconder a falta de idéias” na verdade é a “adaptação das idéias”. Sendo assim, peço licença à Academia para criar mais uma categoria, a da “pérolas da falta de bom senso”. And the Oscar goes to... “José Wilker”, por comentários do Oscar.

Um comentário:

Cristiano Contreiras disse...

Titanic foi um divisor-de-águas mesmo na história do cinema. Marcou e ainda é imbatível.

Ah, retificando, são 11 oscars e não 13 como você disse. abraço